Diz o povo que quem espera desespera, e …sempre alcança!
Uma apreciação da época de incêndios florestais de 2014 foi feita pelo comandante operacional da Autoridade Nacional de Proteção Civil em cerimónia de avaliação do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais. Isso aconteceu em novembro na presença da ministra da Agricultura e do Mar e mostrou como resultados as 7.217 ocorrências de fogo, com 19.910 hectares de área ardida (menos 86% que em 2013, a segunda menor área desde há 35 anos e com o máximo no concelho da Guarda), zero mortos e, apenas pouco mais de uma centena de intervenientes com ferimentos.
Foi dito mais (e quanto caricato foi), que os equipamentos de proteção individual chegarão às corporações de bombeiros antes da próxima época de incêndios, o que quer dizer que, durante mais este ano, os bombeiros ainda tiveram que se proteger deficientemente. Terão feito falta, os equipamentos?
Porém, não se esqueçam, meus senhores, o mérito destes resultados será devido, principalmente, à frescura dos meses críticos e dos bombeiros, que trabalharam com cuidados redobrados para se magoarem o menos possível. Ou terá sido para não prejudicar as estatísticas?
Não se esqueçam que verão, outono e inverno frescos e chuvosos, originam muita biomassa inflamável para o verão de 2015. E, para o ano por esta altura, podem estar a lamentar recordes doutra natureza.
Resíduos industriais na floresta. Usar ou abusar?
Em Portugal, há muitos ecossistemas florestais em que são aplicadas como fertilizantes grandes quantidades de resíduos industriais. Sobre esta questão, a Acréscimo tem feito eco público das suas preocupações, especialmente quando se trata de florestas alvo de certificação.
A Acréscimo afirma também que, sendo verdade que a Diretiva Lamas enquadra estas ações como forma de valorizar estes resíduos na agricultura e na floresta, é certo que a avaliação científica séria e independente do seu impacte florestal, designadamente sobre a fauna e a flora, o solo e os recursos hídricos, e, por consequência, na saúde pública, é desconhecida. Oficiais, apenas existem conselhos técnicos sobre a sua aplicação nas culturas agrícolas.
As pressões várias que sofrem as indústrias com elevado grau de produção de resíduos e que simultaneamente têm grandes interesses na produção florestal e na sua certificação, como é o caso das “celuloses”, não podem deixar de ser especialmente controladas pela vigilância oficial mas também a dos sistemas de certificação florestal, em particular os que atuam nos mecanismos internacionais de certificação (FSC e PEFC).
Mais que verificar as operações de aplicação dos resíduos aos terrenos, com as suas visitas aos espaços florestais a Acréscimo tem procurado constatar se existe monitoração para conhecer e medir aqueles riscos e impactes ambientais e/ou públicos, nomeadamente nos terrenos de encosta, que são os que mais frequentemente têm floresta instalada em Portugal. E não encontra.
Do que apurou em vários locais deu notícia a quem devia, mas sem que, até ao momento, tenha notado disso qualquer consequência, privada ou oficial. É que, entende a Acréscimo, além das consequências referidas, também está em causa o esforço sério de famílias e empresas sérias, familiares ou não, para obter, responsavelmente, a certificação dos produtos das suas explorações florestais.
Ainda 8 notícias!
1. Seja lá o que for que se venha a sentir de real e concreto em 2015, de acordo com a ministra Assunção Cristas, os pequenos proprietários florestais irão ter oito tipos diferentes de benefícios fiscais no quadro da anunciada reforma da fiscalidade verde: no IRS, no IMI e no IS.
2. O ICNF foi descobrir, e já atuou em conformidade, que a Cropinvest-Agrícola Lda., de Almeirim, entrou na herdade de Monte Novo do Sul, charneca de Alcácer do Sal, a gradar sem cobertura legal, terrenos com proteção da Rede Natura 2000 para fazer agricultura intensiva. E já destruiu indivíduos dum endemismo português - a Armeria rouyana - e duma variedade de tomilho selvagem - a Thymus capitatus -, o que surge depois de já terem sido concretizadas idênticas intervenções na Herdade da Comporta, numa empresa da Rioforte, do GES.
3. No final de novembro passado foi apresentada em Coruche, no Observatório do Sobreiro e da Cortiça e em concorrência com o PEFC e o FSC, uma Plataforma Web de Gestão de Sistemas de Gestão Florestal - a AGRICERTIFICA -, que tem por objetivo responder aos obstáculos da gestão da informação sentidas pelas entidades certificadoras e certificadas, como sejam a execução de auditorias, a emissão de relatórios automáticos, de etiquetas e certificados, e o controlo de ações corretivas e documentais.
4. À margem dum ciclo de conferências para associados, decorrida recentemente em Torres Vedras, o presidente da ANEFA afirmou à Lusa que, em virtude do número e intensidade dos fogos, das preocupantes pragas de processionária e de nemátode, mas principalmente porque não se planta há oito anos e estamos a cortar do que plantaram os nossos pais e avós, a escassez de pinho para a indústria laborar é um gigantesco problema que afeta toda a cadeia de valor florestal.
5. A Ministra da Agricultura afirmou, de visita ao Algarve, ser a criação de Zonas de Intervenção Florestal e de associações de produtores o caminho para o financiamento comunitário para a floresta nacional.
6. Durante a mesma visita, a Ministra visitou zonas ardidas há dois anos nos concelhos de Tavira e S. Brás d’Alportel e o vice-presidente da Associação de Produtores Florestais do Barranco Velho não deixou de a alertar para o facto de “muitas das árvores que não arderam com o incêndio estarem a morrer agora (o que não espanta os profissionais florestais); a situação é bem visível ao circular na antiga EN 2 e são às centenas”.
7. Notícia da Lusa dá conta da inauguração de novo núcleo do Museu do Papel, em Sta. Mª da Feira; o núcleo é alusivo ao percurso entre a produção lenhosa sustentável e o produto final, num quadro da análise do ciclo “origem lenhosa/suas várias aplicações comerciais”.
8. O ex-ministro da Agricultura, A. Sevinate Pinto, escreveu no Público sob o título A nossa floresta agridoce, uma abordagem à fileira cuja leitura quero aconselhar. É esclarecido, didático e imparcial, como se lhe pede.
Mário Pinheiro