Apoios ao eucalipto não, mas…

A ministra da agricultura decidiu que não haverá os apoios previstos (40% a fundo perdido) à instalação de novos eucaliptais no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural para 2014-20. Foi o que disse à agência Lusa o presidente da Quercus, após garantia obtida em conversa que manteve com o SEA Diogo Albuquerque após uma reunião. Evidentemente que é um “facto positivo”, tem toda a lógica e revela bom senso. Mas…, tem um “mas”.

Ainda não está “em cima da mesa” a questão, disse o SEA, mas poderá vir a haver apoio à produtividade das atuais áreas de eucalipto e uma reprogramação do PDR para substituição de espécie; para tal vir a acontecer lançar-se-á uma discussão pública, acrescentou ele.

E, agora acrescento eu, o lobby das celuloses vai aceitar esta troca sem mais? Não me parece! Estamos cá para ver!

95% das mudanças climáticas causa-as o Homem

Que o clima está em mudança acentuada e que é enorme o seu impacte na vida sobre a Terra, já não há dúvidas. E de que o Homem é o principal causador, também não.

O relatório apresentado recentemente em Yokohama, no Japão, por cerca de 500 cientistas, peritos e políticos (segundo declaração do secretário da Organização Meteorológica Mundial à imprensa, porventura o mais completo da história do Homem), vem declarar em definitivo tal estado de coisas e alertar para a necessidade de alterarmos o nosso comportamento.

Na Europa, particularmente a do sul, aquelas alterações climáticas aumentarão a perda d’água por evaporação, portanto também induzirão restrições ao uso de água dos rios e aquíferos para irrigação, produção de energia, indústria e uso doméstico. Também provocarão mais longas e expressivas vagas de calor e respetivos efeitos negativos na qualidade do ar, portanto na saúde e no bem-estar públicos, na produtividade laboral, na agricultura e na elevação do risco de incêndios florestais.

Causados, em parte muito significativa, pela conduta do Homem, a redução destes riscos só a ele e à sua “capacidade de mitigar os efeitos das mudanças climáticas e de os adaptar às nossas sociedades” cabe, afirmou o vice-presidente do Painel Intergovernamental da ONU sobre Alterações Climáticas (IPCC) naquela reunião.

Da redução da emissão de gases com efeito de estufa, destacou ainda o presidente do IPCC, irá depender o que acontecerá no mundo nos anos próximos.

Por tão repetidas, quanto são conhecidas estas verdades! Para quando agir a condizer?

De segundo maior … importador, a segundo maior … exportador!

A ResiPinus - Associação de Destiladores e Exploradores de Resina está a tentar fazer ressurgir esta indústria em Portugal, numa altura em que a China tem os seus recursos em fase de esgotamento e o Brasil a sua produção intensiva enfraquecida.

Aquela associação prepara-se para reclamar à Secretaria de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural o apoio do Estado aos serviços de vigilância e manutenção que a atividade da resinagem proporciona, quer pela frequência e longa estadia de resineiros no pinhal durante a época crítica dos fogos, quer facilitando a abertura de caminhos e induzindo a limpeza da floresta.

A garantia de escoamento do produto desta fileira e a promoção de muitos postos de trabalho por períodos longos durante o ano (6 a 9 meses por cada 20-30 hectares) em zonas rurais muito despovoadas e com pouca atividade agro-florestal, também justificam e garantem, assegura a ResiPinus, a importância desta atividade para o setor agrário e para o país.

Vai ser difícil recuperar a “medalha de prata” da exportação de resina que Portugal detinha quando o seu pinhal bravo ocupava cerca de 1,3 milhões de hectares; isto porque, agora, a sua área já se reduziu a cerca de 714 mil hectares (IFN, 2010), sofre tanto as pressões dos muitos fogos e da praga do nemátode.

Mas não há que desistir e o Estado, parece-me, deveria apoiar a reativação desta fonte de rendimento do pinhal.

Mário Pinheiro