Porque morrem ainda tantos sobreiros?

A Estação Florestal Nacional foi um dos organismos pioneiros no estudo do declínio dos montados de sobro em Portugal. Fê-lo logo que a questão se colocou, há bem mais de duas décadas e meia. Produziu até hoje, como diversos outros organismos públicos e privados o fizeram também, considerável quantidade de trabalho e conhecimento. Sem chegarem a uma conclusão definitiva, é certo, mas sempre perseguindo, determinados, uma meta que não sabem se existe. E, pior, sem que o setor beneficie devidamente do seu trabalho. Disso não têm dúvidas, eu sei.

Esta problemática requer um trabalho contínuo, particularmente longo e bem planeado, e não se compadece, bem mais que qualquer outro estudo florestal, com o regime de programação trienal que há muito tem financiado a investigação nacional. Este regime, cujo funcionamento nas últimas décadas raramente pôde considerar-se satisfatório, quase que apenas tem conseguido levar o estudo deste ecossistema para aspetos pontuais e mais imediatos, frequentemente ligados a questões específicas da utilização da cortiça. Quase todas questões que mais facilmente proporcionam resultados em curtos períodos de tempo, o que não são, manifestamente, as questões ligadas à silvicultura e à proteção, as ciências em que radicarão as razões daquele declínio.

Sabido isto, e pese embora a enorme importância que o montado e a cortiça tem para nós, quer ambiental quer economicamente, é inteiramente incompreensível que, para resolver uma questão de que tanto depende o país e a sua indústria, não tenha ainda havido o entendimento, a vontade e a capacidade financeira para manter em atividade uma equipa expressamente destinada a estudar e propor soluções para esta questão.

É verdade que há cientistas aptos para o fazer, mas ainda não houve vontade política.

Quando haverá?

Capacetes de pau e rolha

A empresa americana Coyle, com sede em Corvallis – Oregon, experimentou e passou a produzir capacetes em madeira com revestimento interior em cortiça. O exterior é uma concha de lenho e o sistema de amortecimento interior, folha de cortiça. Dois produtos absolutamente naturais e renováveis, obtidos de produção sustentável. E, naturalmente, ambientalmente menos prejudiciais que os produtos sintéticos.

O senhor Dan Coyle dá-nos, portanto, mais uma ótima lição de como repensar modos de fabrico e de produção para conceber produtos de qualidade aliados do ambiente.

Então, e não é que os materiais dos capacetes Coyle acabam por exceder os padrões de segurança exigidos nos EUA para capacetes?

Só uma floresta diferente arde menos

A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) reclama do Governo um inventário criterioso dos prejuízos que atingiram os agricultores, os produtores florestais e a população durante os fogos do verão passado, e o pagamento urgente das indeminizações devidas.

E, ainda no rescaldo de tudo quanto se passou, refere a necessidade de melhores políticas agroflorestais, e põe, realmente, o dedo na ferida. Não só afirma que é o mau estado geral da floresta portuguesa que está na origem da catástrofe que são os fogos florestais, como se não esquece de lembrar que a política florestal seguida pelo atual governo não vai no bom sentido. Pouco ou nada faz para obviar à escassez de ordenamento florestal, de que só tira proveito a floresta industrial das espécies de rápido crescimento - o pinhal e o eucaliptal.

Realmente, por uma floresta diferente, diversa, compartimentada e rentável, a única realmente inimiga do fogo, o que é que já fez ou se propôs fazer o governo?

Como os governos anteriores, nada.

Portanto, não posso estar mais de acordo com a CNA.

Mário Pinheiro