Um novo velho Dia da Árvore

A ONU não quer misturas com o Dia da Árvore (o nome original) e o Dia Mundial da Floresta, e decidiu também ter um dia florestal “só pra si”. Por isso não esteve com meias medidas – criou também um dia especial para o efeito, e chamou ao dia 21 de março o Dia Internacional das Florestas.

Parece-me estranha esta imodéstia, mas quem sou eu para criticar a ONU. Desde que consiga contrariar a apatia crónica dos governos, tudo bem. Estou cá pra ver!

Está aí à porta a época anual da “motivação florestal”. É que por via de ter ocorrido um inverno e uma primavera tão molhadas, este ano vai falar-se bastamente do ordenamento florestal e da gestão das matas. E tanto vai falar-se que vão gastar-se aqueles chavões; mesmo que se não saiba lá muito bem o que significam. E, geralmente, não se sabe.

E mais, porque o material combustível que se criou e criará ainda nas matas vai ser muito, os fogos vão dar muito que fazer desde muito cedo. Ou seja, a época das barbas a arder não tarda aí.

Em Portugal, os pinhais e os eucaliptais são culturas artificiais. E, por isso, apenas sobrevivem (não produzem) se não for convenientemente planeada a repartição espacial e temporal do seu potencial produtivo, e, atempadamente, executados os atos de gestão programados para o efeito.

Estes atos são variados, portanto é muito escasso pensar-se que ordenar e gerir uma mata se restringe a controlar o crescimento dos matos para que não ardam, mesmo que haja a melhor preocupação com a repartição do espaço associada à preservação e promoção da biodiversidade global, com a prevenção dos efeitos erosivos ou com o incremento da infiltração das águas por exemplo. Longe disso. Tenhamos a certeza, há bem mais que fazer para assegurar a sua rendibilidade.

Distribuir uns folhetos, contar umas estórias e pôr uns meninos a fazer uns desenhos e a plantar umas arvorezinhas, tem um efeito pedagógico interessante, mas também é muito pouco.

Bem mais proveitoso para o setor florestal seria usar o Dia da Árvore para impulsionar a aplicação dos planos de ordenamento existentes e para divulgar os seus benefícios.

Duma vez por todas é preciso mostrar e demonstrar que a floresta portuguesa não é só importante, … quando está a arder.

Mário Pinheiro